segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Por que não somos homens-bomba?

por Klesty Andrada

Grandes são os questionamentos acerca dos homens-bomba. “Por que são tão maus?”, “Em que pensam esses terroristas?”. A resposta não é tão simples... mas gostaria de expressar a minha humilde opinião.

Antes de questionarmos o comportamento desses homens e, talvez até julgá-los injustamente, é preciso entendê-los. De acordo com alguns estudos, a educação, a família, a cultura, a religião e a política, formam uma mistura de fatores que influenciam fortemente o ser humano seja qual for a nacionalidade e que, em alguns casos, determinam o comportamento, a forma de pensar e de agir. Há casos em que esses fatores influenciam para o bem, outros para o mal.


Se voltarmos um pouco no tempo e olharmos a História como uma vitrine tiraremos alguns exemplos e veremos que, no episódio da inquisição da Igreja Católica, as pessoas simples da época eram levadas a crer que matar hereges em nome de Deus lhes garantiria “um terreno no céu” e que isso era bom, ou seja, as consciências daquelas pessoas não as acusavam de erro algum, pelo contrário. Os líderes religiosos da época tatuaram em suas mentes que essa era a vontade de Deus.

Ainda na história, o governo Alemão cometeu o primeiro genocídio do século XX entre 1904 e 1907 na região onde hoje fica a Namíbia. Naquela época, requintes de crueldade foram detectados, dentre o quais se destaca o fato dos alemães terem envenenado a água dos poços no deserto a fim de matar pessoas inocentes. Tudo isso por um idealismo político-cultural.

Façamos uma analogia mais simples agora. Se tivéssemos nascido na Índia, certamente nossa religião não seria monoteísta ou se tivéssemos nascido na África em uma das tribos exóticas que lá existem, como por exemplo, a tribo Hame, provavelmente estaríamos todos nus e usando argolas e pendentes pelo corpo.

Do mesmo modo, se tivéssemos nascido no oriente médio, provavelmente rezaríamos para Alá às 6:00, 9:00, 12:00, 15:00, 18:00 (no pôr do sol) 21:00 e 00:00h sem achar isso um exagero, mas uma necessidade.

Baseado nas informações do Banco de Dados de Terrorismo Suicida da Universidade de Flinders, Austrália, o mais vasto do mundo, Leonardo Guarnieri disse em uma publicação intitulada de “O que motiva os homens-bomba?”:


"As evidências do banco de dados desacreditam largamente o senso comum de que a personalidade e a religião dos homens-bomba são as principais causas. Também mostram que, apesar da religião ter um papel vital no recrutamento e na motivação de futuros homens-bomba, a foça motriz por trás de tudo não é a religião, mas sim uma mistura de diferentes motivações, incluindo as de natureza política, a humilhação, a vingança, a retaliação e o altruísmo. A configuração dessas motivações está relacionada às circunstâncias específicas dos conflitos políticos que estão por trás do aumento dos atentados suicidas em diversos países." (http://www.correiointernacional.com/archives/1470)

Como foi citado anteriormente, não é tão simples analisar os motivos que levam os homens-bomba a matar tantas pessoas. Não estou aqui pra defendê-los, até porque nada justifica tais atitudes já que o homem é capaz de ter senso crítico, mas para mostrar que existe algo por trás de uma ação tão violenta e que nada tem haver com a sanidade mental dos homens-bomba. As informações do mesmo banco de dados revelam que "Tipicamente, a maioria dos homens-bomba são psicologicamente saudáveis, profundamente integrados em redes sociais e emocionalmente ligados às suas comunidades nacionais. Rótulos aleatoriamente distribuídos, como o de "louco", denotam a incapacidade de apreensão das razões mais profundas e não ajudam a desenvolver nossa compreensão das causas do fenômeno dos atentados suicidas. Em vez disso, nos impedem de descobrir sua natureza, causa e sentido reais" (Guarnieri). 

Antes dos homens-bomba, devemos ter repulsa de movimentos politico-religiosos que recrutam crianças e as transformam em verdadeiros monstros e tiram delas o verdadeiro sentido da vida. Na condição de crianças, não lhes restam nada senão acreditar na doutrina de seus lideres e esperar o momento final onde estarão “cumprindo sua missão” como soldados de Deus.

No caso dessas crianças, note que os fatores citados no início não as favorecem: a educação muitas vezes é dada por extremistas, além de ser deficiente; as famílias muitas vezes fazem parte dos movimentos; a cultura é intolerante; a religião incentiva guerras; a política é radical.

Assim, me parece sensato dizer que o homem nem sempre é o único culpado por algumas atitudes perversas, mas o meio, às vezes, o faz assim. De modo que não somos homens-bomba porque somos brasileiros.

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