quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A laicidade do Estado brasileiro e suas controvérsias

Por Klesty Andrada

Nosso país está crescendo e, com ele, a diversidade religiosa e cultural. Na época do império, o Brasil era católico, mas com o advento da república e a democracia era necessário que país fosse laico para que todos os cidadãos fossem tratados por igual, não havia como fugir disso.

O problema é que essa laicidade enfrenta dificuldades enormes para se consolidar. Isso porque uma maioria religiosa não quer abrir mão de dividir o país com outras minorias que estão em crescimento constante.

A diversidade religiosa aumenta, mas os religiosos não aceitam que um crucifixo (maior símbolo do cristianismo) seja retirado de uma repartição pública! A moeda brasileira é pública, mas é impressa com uma frase cristã “Deus seja louvado”. Além disso, políticos religiosos querem tomar decisões políticas que, deveriam considerar o bem comum, mas que são baseadas na bíblia. É óbvio que os conflitos irão existir!


Ora, um político católico deve se lembrar que ele vai trabalhar pra um protestante, da mesma forma que um político protestante vai trabalhar para um ateu. Logo, decisões políticas não devem ser baseadas na religião de político A ou B, espaços públicos devem ser respeitados porque eles são públicos! O que bem comum deve está em primeiro lugar.

Temos direitos iguais como cidadãos brasileiros. Então, já pensou se todo cidadão que frequentasse uma determinada repartição pública pendurasse na parede o símbolo da sua religião? Como iria ficar as paredes das repartições públicas brasileiras? E se fossemos imprimir mensagens das mais diversas religiões nas cédulas de real, certamente faltaria espaço para acomodar todas elas. Por isso, entende-se que locais públicos e o próprio Estado brasileiro não deve privilegiar qualquer religião, porque ele estaria deixando de ser um estado laico.

A laicidade é uma forma de respeitar as mais variadas formas de crença, é evitar que religiosos e não religiosos sintam-se constrangidos em lugares públicos e que, portanto, pertencem a todos. Um estado laico prima pelo direito igualitário das religiões e não há nada de errado nisso, pelo contrário, é uma forma de resolver as diferenças e as injustiças para com as minorias.

A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal está sendo presidida pelo pastor Marcos Feliciano que fez declarações extremamente comprometedoras e preconceituosas contra negros e gays. O problema é que a comissão que ele preside deve trabalhar em prol justamente dessas minorias as quais ele não se cansa de criticar.

É obvio que os negros e os gays não querem um representante que os critique, pois eles sabem o que Feliciano pensa dos gays e dos negros com base em suas declarações.

Certamente eles temem serem prejudicados por ele, e com razão! Se Feliciano acredita que os negros são amaldiçoados por deus, como os negros poderão esperar que Feliciano lute pelos seus direitos, o mesmo se aplica aos gays.

Com uma reflexão básica e imparcial, o leitor pode perceber o motivo de tanta desconfiança por parte das minorias alvo das criticas de Marcos Feliciano.

É, portanto, direito dessas minorias se manifestarem contra o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Nenhum progresso de expressão se pode esperar de um representante que ao invés de lutar pelos direitos das minorias, os critica. Na mais justo que se unam e peçam a sua renúncia.

O que me deixa pasmo, é ver negros, muitas vezes pobres, defender a permanência de Marcos Feliciano no cargo, só porque pertence à mesma religião de Feliciano. Quanta ignorância!

Seria o mesmo que ver um judeu torcendo para que Hitler ganhasse a guerra! Isso não faz sentido...
Por essa e outras razões, política e religião não devem se misturar. A laicidade, quando bem praticada, defende os direitos de todos por igual! O país não assume nenhuma religião, mas garante o direito de todas elas.


A laicidade brasileira é a esperança de um país mais justo e igualitário onde seus cidadãos são menos preconceituosos e mais conscientes.

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