Por Klesty Andrada
Nosso país está crescendo e, com ele, a diversidade
religiosa e cultural. Na época do império, o Brasil era católico, mas com o
advento da república e a democracia era necessário que país fosse laico para
que todos os cidadãos fossem tratados por igual, não havia como fugir disso.
O problema é que essa
laicidade enfrenta dificuldades enormes para se consolidar. Isso porque uma
maioria religiosa não quer abrir mão de dividir o país com outras minorias que
estão em crescimento constante.
A diversidade religiosa aumenta, mas os religiosos não
aceitam que um crucifixo (maior símbolo do cristianismo) seja retirado de uma
repartição pública! A moeda brasileira é pública, mas é impressa com uma frase
cristã “Deus seja louvado”. Além disso, políticos religiosos querem tomar
decisões políticas que, deveriam considerar o bem comum, mas que são baseadas
na bíblia. É óbvio que os conflitos irão existir!
Ora, um político católico deve se lembrar que ele vai
trabalhar pra um protestante, da mesma forma que um político protestante vai
trabalhar para um ateu. Logo, decisões políticas não devem ser baseadas na religião
de político A ou B, espaços públicos devem ser respeitados porque eles são
públicos! O que bem comum deve está em primeiro lugar.
Temos direitos iguais como cidadãos brasileiros. Então, já
pensou se todo cidadão que frequentasse uma determinada repartição pública
pendurasse na parede o símbolo da sua religião? Como iria ficar as paredes das
repartições públicas brasileiras? E se fossemos imprimir mensagens das mais
diversas religiões nas cédulas de real, certamente faltaria espaço para
acomodar todas elas. Por isso, entende-se que locais públicos e o próprio Estado
brasileiro não deve privilegiar qualquer religião, porque ele estaria deixando
de ser um estado laico.
A laicidade é uma forma de respeitar as mais variadas formas
de crença, é evitar que religiosos e não religiosos sintam-se constrangidos em
lugares públicos e que, portanto, pertencem a todos. Um estado laico prima pelo
direito igualitário das religiões e não há nada de errado nisso, pelo
contrário, é uma forma de resolver as diferenças e as injustiças para com as
minorias.
A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal
está sendo presidida pelo pastor Marcos Feliciano que fez declarações
extremamente comprometedoras e preconceituosas contra negros e gays. O problema
é que a comissão que ele preside deve trabalhar em prol justamente dessas
minorias as quais ele não se cansa de criticar.
É obvio que os negros e os gays não querem um representante
que os critique, pois eles sabem o que Feliciano pensa dos gays e dos negros
com base em suas declarações.
Certamente eles temem serem prejudicados por ele, e com
razão! Se Feliciano acredita que os negros são amaldiçoados por deus, como os
negros poderão esperar que Feliciano lute pelos seus direitos, o mesmo se
aplica aos gays.
Com uma reflexão básica e imparcial, o leitor pode perceber
o motivo de tanta desconfiança por parte das minorias alvo das criticas de
Marcos Feliciano.
É, portanto, direito dessas minorias se manifestarem contra
o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Nenhum progresso de
expressão se pode esperar de um representante que ao invés de lutar pelos
direitos das minorias, os critica. Na mais justo que se unam e peçam a sua
renúncia.
O que me deixa pasmo, é ver negros, muitas vezes pobres,
defender a permanência de Marcos Feliciano no cargo, só porque pertence à mesma
religião de Feliciano. Quanta ignorância!
Seria o mesmo que ver um judeu torcendo para que Hitler
ganhasse a guerra! Isso não faz sentido...
Por essa e outras razões, política e religião não devem se misturar.
A laicidade, quando bem praticada, defende os direitos de todos por igual! O
país não assume nenhuma religião, mas garante o direito de todas elas.
A laicidade brasileira é a esperança de um país mais justo e
igualitário onde seus cidadãos são menos preconceituosos e mais conscientes.
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