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por Ítalo Nogueira, da Folha
Cristã fervorosa, a missionária Cláudia Simião da Silva, 35,
levou sua fé ao extremo ao jejuar por cerca de um mês --esperando um
"enviado divino"-- e obrigar duas sobrinhas, a irmã e a sogra a
acompanharem o retiro. Ela foi encontrada morta, segundo a polícia, por
inanição dentro da própria casa, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense (RJ).
As cinco pessoas ficaram confinadas por quase dois meses em
casa. As irmãs Adrielle, 9, e Grazielle Souza Santos Simião, 11, foram
internadas na sexta-feira apresentando quadro de desnutrição e de confusão
mental e devem ficar hospitalizadas por quase um mês. Na mesma situação estão
Cátia Simião da Silva (irmã), 31, e Lúcia Maria Simião da Silva (sogra).
Cláudia teria obrigado a família a permanecer dentro de casa. Em depoimento à
polícia, o pai das duas garotas, o desenhista técnico Uendes Simião da Silva,
33, afirmou que Grazielle lhe contou que "Cláudia havia dito que o jejum
duraria até que recebessem uma resposta de Deus no sentido de enviar uma pessoa
que os tirassem daquela vida e os levassem para uma casa na zona sul [área
nobre do Rio de Janeiro]".
Não se sabe a qual denominação religiosa Cláudia pertencia. Ela freqüentava a
Igreja Batista de um bairro próximo, mas havia abandonado os cultos cerca de
dez anos atrás. Depois disso, viajou para Argentina, Uruguai e Angola. Segundo
Uendes, ela era formada em teologia e cursava direito.
A clausura começou em meados de setembro. Confinados, os moradores da casa
inicialmente só podiam comer o que havia dentro da residência. No início de
outubro, a luz foi cortada, pois a família completara três meses sem pagar a
Light --distribuidora de energia elétrica. A comida, estragada, não pôde mais
ser consumida. Foi quando o jejum começou.
Durante todo o tempo, as crianças tiveram "cursos bíblicos", segundo
a conselheira tutelar Elaine Galvão, que ouviu Grazielle no Hospital Estadual
Carlos Chagas.
Além dos portões trancados e da ausência total de eletricidade, Cláudia tampou
as janelas com cortinas pretas. Segundo Galvão, ninguém foi agredido durante o
confinamento.
Na sexta-feira, por volta das 17h, as duas crianças conseguiram sair de casa.
Cláudia já estava morta há cerca de cinco dias, e seu corpo havia entrado em
estado de decomposição.
Cátia e Lúcia desmaiavam e vomitavam sobre os próprios corpos regularmente. A
avó, então, mandou as meninas procurarem ajuda.
"Elas pareciam aquelas crianças da Etiópia. Era só pele e osso",
afirmou José Carlos Lima, 36, vizinho da família. As duas procuraram ajuda no
bar de Milton André, 64. Ele lhes ofereceu macarrão, leite, bala e
refrigerante, mas elas não conseguiam comer.
Segundo o delegado Flávio de Brito, a avó e os pais das meninas podem responder
por crime de abandono de incapaz.
Fonte:
Paulopes - http://www.paulopes.com.br/2007/11/missionaria-morre-apos-jejum-de-um-mes.html#.UuxIXPldW_Q
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