Essa nem é a minha área
de expertise, minha graduação é de
Tecnologia em Redes de Computadores. Mesmo assim, como sou entusiasta do tema,
ouso tecer algumas linhas sobre o tema ainda que correndo o risco de ser mal
compreendido ou de equivocar-me em alguns pontos, nesse caso, até encorajo os
leitores a se sentirem confortáveis em comentar os tais pontos de equívocos,
mas o façam de forma dedicada e pontual a fim de contribuir para o bom
entendimento de todos.
Este texto nada mais é que uma espécie de resumo daquilo que andei pesquisando nos últimos anos
sobre o assunto. Particularmente, acho o tema muito complexo e isso talvez se
justifique pelo fato de haver tantas divergências entre os cientistas ortodoxos
e os não ortodoxos. Entretanto, há um consenso majoritário em que me baseio
para expor minhas ideias, mesmo que as linhas que se seguem não tenham a
pretensão de defender os méritos da maioria, mas tão somente tomá-los como base
para nosso raciocínio.
Parece que a sociedade
moderna tem tratado o tema egoísmo como algo nocivo e até mesmo imoral. Esse
tratamento tem sugerido que o altruísmo deve substituir o egoísmo como uma
forma redentora e viável para a evolução das espécies, especialmente a humana.
Não quero dizer com isso que devemos incentivar as pessoas a serem cada vez mais
egoístas, não se trata disso, mas terei atingido o meu objetivo se esta
dissertação mostrar às pessoas que fazer o que é moralmente recomendável ou fazer
o bem são traços de um possível altruísmo genuíno que estamos tentando
desenvolver nos rebelando contra nossa própria natureza e que, portanto, não
devemos ser tão rápidos em afirmar que o altruísmo genuíno existe.
Uma rápida pesquisa no
Google e percebe-se a existência de variados níveis de punições para as pessoas
cujos atos egoístas são descobertos: exclusão de grupos sociais e imposição de
culpa são alguns exemplos dessas punições. Nesse sentido, é óbvio que as
recompensas dadas às pessoas que se comportam de forma “altruísta” também ajudam
a reafirmar a ideia de que os egoístas, de modo geral, são pessoas ruins e
imorais. Essas recompensas também podem variar e podem partir de um simples
elogio.
No entanto, essa
tendência interessante não deverá banir o egoísmo das espécies e nos dá a
falsa ideia de que todo bem que praticamos
hoje, é, de fato, altruísmo genuíno, mas que são apenas rascunhos de um
altruísmo verdadeiro que, evolutivamente, estamos tentando aperfeiçoar ainda
que não haja consenso entre os cientistas sobre a certeza da compatibilidade entre
o altruísmo e a seleção natural de Darwin já que indivíduos, genuinamente
altruístas, não coexistiriam amigavelmente com indivíduos egoístas,
constituindo-se um paradoxo.
É claro que hoje,
devido à abundância de recursos como conseqüência da estratégia egoísta da cooperação
e da reciprocidade, proposta por Robert Trivers e razoavelmente resumidas e
explicadas pela soma das teorias de seleção em níveis diferentes defendida por
David Sloan Wilson, não há que se imaginar disputas mortais por comida com
freqüência, muito embora tais comportamentos egoístas ainda existam entre a maioria
das espécies quando os indivíduos estão em situação de sobrevivência, o que foi observado na história recente e que pode voltar a acontecer entre os humanos. A
famosa Lei da Sobrevivência é egoísta e talvez a mais egoísta de todas (“primeiro
eu”), mas extremamente necessária e lógica quando as disputas são internas ou
entre grupos, ou seja, a ideia é mostrar, por exemplo, que em um grupo de
egoístas e verdadeiros altruístas situados em local com limitação de alimento e
espaço, os mais altruístas tendem a desaparecer primeiro e os mais egoístas
tendem a ficar por último. É óbvio que, em princípio, restando apenas egoístas, isso poderia resultar em aniquilação
total dos egoístas em virtude de suas naturezas, mas veremos que os genes deram um jeito de desenvolver uma
estratégia ainda mais egoísta de coexistirem usando a reciprocidade positiva e
a cooperação a fim de alcançarem um objetivo egoísta em comum.
Antes, tomemos como base
alguns conceitos sobre o que é egoísmo, altruísmo, bem, mal, cooperação e
reciprocidade, a fim de evitarmos desentendimentos e choques conceituais:
Altruísmo:
O altruísmo possui dois
conceitos ligeiramente distintos. Na doutrina cotidiana, altruísmo é entendido
como sinônimo de caridade e filantropia, portanto, a simples “inclinação para
procurarmos obter o bem para o próximo.” (dicionário Aurélio), pode e é
entendida como altruísmo ainda que haja lucro para quem o pratica. É importante frisar: em minha fala, uso a expressão “altruísmo incompleto (R. Dawkins)” ou “altruísmo
recíproco (R. Trivers)” para referir-me a este tipo de altruísmo.
Do ponto de vista científico (evolutivo), altruísmo assume um significado menos amplo, pois, para que o comportamento altruísta seja observado, deverá haver uma perda em maior ou menor grau, mas significativa, para o individuo que se propõe a ser altruísta. Esse conceito de altruísmo genuíno, que não é sinônimo de solidariedade ou filantropia, é mais antigo e foi criado pelo filósofo francês Augusto Comte para fazer oposição direta ao egoísmo: que são inclinações em favor de si próprio ou de uma coletividade visando ganhos de forma imediata ou não. Segundo a filosofa e escritora romancista Ayn Rand, se o conceito de altruísmo se opõe diretamente ao egoísmo, logo, não basta fazer o que é moralmente certo ou simplesmente fazer o bem, é necessário que haja uma perda significativa ou risco suficientemente grande, do ponto de vista do altruísta, para que seja considerado um altruísmo que se opõe ao egoísmo. O prejuízo ao altruísta, nesse caso, é necessário. Chamaremos este altruísmo de “altruísmo genuíno”.
Do ponto de vista científico (evolutivo), altruísmo assume um significado menos amplo, pois, para que o comportamento altruísta seja observado, deverá haver uma perda em maior ou menor grau, mas significativa, para o individuo que se propõe a ser altruísta. Esse conceito de altruísmo genuíno, que não é sinônimo de solidariedade ou filantropia, é mais antigo e foi criado pelo filósofo francês Augusto Comte para fazer oposição direta ao egoísmo: que são inclinações em favor de si próprio ou de uma coletividade visando ganhos de forma imediata ou não. Segundo a filosofa e escritora romancista Ayn Rand, se o conceito de altruísmo se opõe diretamente ao egoísmo, logo, não basta fazer o que é moralmente certo ou simplesmente fazer o bem, é necessário que haja uma perda significativa ou risco suficientemente grande, do ponto de vista do altruísta, para que seja considerado um altruísmo que se opõe ao egoísmo. O prejuízo ao altruísta, nesse caso, é necessário. Chamaremos este altruísmo de “altruísmo genuíno”.
O altruísmo genuíno é o
altruísmo ao qual se referem em seus livros e artigos os cientistas W. D.
Hamilton, John Maynard Smith, George Price e mais recentemente Richard Dawkins em
seu livro O Gene Egoísta, cuja leitura recomendo.
Egoísmo:
O egoísmo é o hábito ou
a atitude de uma pessoa de colocar seus interesses, opiniões, desejos e necessidades em primeiro lugar em detrimento (ou não) do ambiente e das demais
pessoas com que se relaciona, ainda que os ganhos e benefícios sejam imediatos
ou tardios. Neste sentido, é o antônimo de altruísmo.
No caso de egoísmo,
parece não haver divergências de conceitos.
Bem
Pelo dicionário Aurélio, parece que o conceito de bem é muito simples:
1. O que é bom, lícito e recomendável. Fora do dicionário, o significado de bem pode ser mais complexo porque, a
depender do ponto de vista cultural ou religioso, o que é bem pra mim pode ser mal
pra você e vice-versa, logo, o significado de bem pode variar, mas o conceito acima é o mais comumente aceito
entre as diferentes culturas.
Mal
1. O que é oposto ao
bem. (dic. Aurélio). Do mesmo modo que o
bem, pode ter um conceito mais
complexo.
Empatia
A empatia pode ser
definida pela capacidade psicológica
de colocar-se no lugar de outro indivíduo como se ele fora. Em outras palavras: pôr-se no lugar do outro, porém, sem perder a condição de “como
se”. A empatia implica, por exemplo, sentir a dor ou o prazer do outro como
ele o sente e perceber suas causas como ele as percebe, contudo, sem perder de vista que se trata da dor ou do prazer do outro (capacidade complexa para
muitas espécies). Pelo dicionário Aurélio: 1 Forma de identificação intelectual
ou afetiva de um sujeito com uma pessoa, uma ideia ou uma coisa.
Cooperação
Ato de cooperar; operar
simultânea ou coletivamente (Aurélio). Cooperação é uma ação conjunta para
uma finalidade, objetivo em comum. Cooperação é uma relação baseada entre
indivíduos ou organizações, utilizando métodos mais ou
menos consensuais. (Wikipédia).
O “altruísmo
cooperativo” ou “altruísmo da reciprocidade” de Robert Trivers, tem sido
estudado por alguns cientistas, inclusive por Dawkins, como sendo traços
evolutivos de um altruísmo genuíno. Exploraremos essa questão mais adiante.
Reciprocidade
1. Caráter do que é
recíproco. 2. Mutualidade. (Dic. Aurélio). Em psicologia
social, reciprocidade refere-se a responder uma ação positiva com
outra ação positiva, e responder uma ação negativa com outra negativa. Ações
recíprocas positivas diferenciam-se de ações altruístas porque
ocorrem somente como decorrência de outras ações positivas; diferenciam-se de
uma dádiva social porque esta é concedida na esperança ou
expectativa de respostas positivas futuras. (Wikipédia). Pode ser encarada como
uma das variantes de egoísmo uma vez que a reciprocidade positiva visa sempre
benefícios imediatos ou não para quem a pratica.
***
Considerações
O meu objetivo aqui não
é demonstrar que os genes se comportam de forma egoísta, uma vez que estudiosos
do assunto já o fizeram com mais propriedade. Como também, não estou defendendo
uma teoria nova, toda apologética desta dissertação está baseada em estudos e
teorias de cientistas que foram pioneiros na defesa das ideias que se seguem.
É desnecessário
dizer que, tão importante quanto os conceitos acima, é levar em consideração
que a teoria ortodoxa do egoísmo dos
genes é um consenso entre a maior parte dos cientistas atualmente, caso
contrário, teremos um problema gravíssimo de premissa, o que impede o debate na
linha que proponho e torna desnecessária a leitura deste artigo. O debate
seguiria num outro sentido. Portanto, se o caro leitor discorda dessa premissa,
não leia este artigo, leia, George C. Williams, W. D. Hamilton, G. Price, N.
Burton, S.Taylor, R. Dawkins, E. O. Wilson ou qualquer outro escritor de sua
preferência e depois, volte ou não, aqui para continuarmos refletindo sobre a
possibilidade de haver ou não altruísmo entre as espécies, porque, o egoísmo,
já é um consenso de larga aprovação, o desafio, portanto, está em demonstrar o
contrário.
De posse desses
conceitos e premissas, vamos às reflexões:
O
altruísmo caridoso não seria uma
forma de egoísmo?
Não é de hoje que os
cientistas defendem a linha de argumento que sustenta que a filantropia não
passa de um “egoísmo travestido”, alguns dos quais já foram citados aqui. Dessa
linha de pensamento surgiu, em 1974, a conhecida máxima “arranhe um altruísta e
verás um egoísta sangrar” de Michael Ghiselin, biólogo americano.
Um cientista que também se destaca com essa linha argumentativa é Neel Burton, psiquiatra e professor da Universidade de Oxford na Inglaterra. Burton argumenta: “não existe isso de um ato [puramente] altruísta que não leve a algum grau (…) de orgulho e satisfação”. “Para Burton, todo ato altruísta pode ser considerado um ato de interesse próprio por pelo menos uma das seguintes razões: alívio da ansiedade, porque leva o sujeito a ter sensações prazerosas de orgulho e satisfação, a expectativa de reciprocidade ou de receber honras da sociedade, ou porque ele liberta o sujeito de sensações ruins como culpa ou vergonha por não ter agido diante de uma situação onde ele poderia ajudar” (F. Freitas – Psicóloga). Lembro que, como exposto no terceiro parágrafo e facilmente constatável, a sociedade recompensa indivíduos que se ocupam com filantropia, o que pode levar (e nem estou generalizando) indivíduos a fazerem caridade com vistas nessas tais recompensas e reconhecimentos sociais. Do mesmo modo, a sociedade impõe culpa ou vergonha (dentre outros tipos de punições) aos indivíduos egoístas que não se ocupam com caridade.
Um cientista que também se destaca com essa linha argumentativa é Neel Burton, psiquiatra e professor da Universidade de Oxford na Inglaterra. Burton argumenta: “não existe isso de um ato [puramente] altruísta que não leve a algum grau (…) de orgulho e satisfação”. “Para Burton, todo ato altruísta pode ser considerado um ato de interesse próprio por pelo menos uma das seguintes razões: alívio da ansiedade, porque leva o sujeito a ter sensações prazerosas de orgulho e satisfação, a expectativa de reciprocidade ou de receber honras da sociedade, ou porque ele liberta o sujeito de sensações ruins como culpa ou vergonha por não ter agido diante de uma situação onde ele poderia ajudar” (F. Freitas – Psicóloga). Lembro que, como exposto no terceiro parágrafo e facilmente constatável, a sociedade recompensa indivíduos que se ocupam com filantropia, o que pode levar (e nem estou generalizando) indivíduos a fazerem caridade com vistas nessas tais recompensas e reconhecimentos sociais. Do mesmo modo, a sociedade impõe culpa ou vergonha (dentre outros tipos de punições) aos indivíduos egoístas que não se ocupam com caridade.
Os benefícios do altruísmo caridoso já são velhos
conhecidos da psicologia e da neurociência. Alguns profissionais chegam a
receitar o altruísmo aos pacientes visando os benefícios que ele pode trazer:
“Dos benefícios físicos, existe o
relaxamento muscular, liberando tensões e aliviando dores em locais doloridos,
liberação do hormônio oxitocina que tem ação cardioprotetora. Além disso,
alguns estudos já demonstraram que pessoas altruístas têm seu nervo vago, um
nervo responsável pelo controle de inflamações, mais ativo.
Psicologicamente falando, o
altruísmo melhora a autoestima e autoconfiança, além de ser ótimo no controle
do stress, depressão e ansiedade. Além disso, a oxitocina citada acima é um
hormônio que nos ajuda a nos sentirmos mais próximos e conectados às outras
pessoas.” (F. Freitas - Psicóloga e Psicanalista pela USU/RJ).
Os benefícios obtidos a
partir do alívio do stress causado pelo sentimento de culpa ou vergonha são
indiscutíveis, pois chegam a prevenir doenças. O problema é: diante de tantos
benefícios, não seria natural que os cientistas questionassem a genuinidade desses
“altruísmos”? Parece-me lógico responder que sim já que essas ações estão mais
pra ações egoístas que para ações altruístas se nos basearmos nos conceitos de egoísmo e altruísmo genuíno descritos acima, ou seja, além de não haver perdas
significativas para o individuo que se propõe ao altruísmo da filantropia, a
relação custo benefício dá, efetivamente, algum tipo de vantagem imediata ou tardia ao ”altruísta” de
plantão.
Steve Taylor, psicólogo
e professor da Universidade Metropolitana de Leeds, compartilha da mesma
opinião de Burton (de Hamilton, de Price, de Wilson, de Dawkins, entre outros),
quando afirma que o altruísmo puro não existe porque sempre receberemos algo em
troca, ainda que de forma inconsciente. Assim, não sejamos rápidos em
afirmar que ações de filantropia e solidariedade são, de fato, um comportamento
genuinamente altruísta. Muita calma nesta hora! Pode ser tentador usarmos o
argumento da experiência pessoal (anedótica) aqui. Alguns já me garantiram:
“Ah! Quando eu faço caridade, o faço sem interesses..."; "... Quem é você pra dizer se
faço ou não caridade por interesses?”. Eles não perderam tempo! O problema é
que essa linha argumentativa é falaciosa.
Taylor chama a atenção
para outra característica humana que pode explicar o altruísmo [ainda que de
forma não definitiva] quando executado de forma inconsciente e alheia aos
ganhos. Para Steve, a empatia é algo essencial e determinante para alguns de nós
agirmos de forma altruísta, ou seja, é algo como um pré-requisito, algo que
precede o comportamento altruísta. Mas, como vimos, a empatia é a capacidade
psicológica de se colocar no lugar de outro individuo como se fosse ele e, por
definição, isso já torna mais improvável o comportamento altruísta entre
algumas espécies de animais devido à clara incapacidade de possuir empatia.
Alguns comportamentos, aparentemente altruístas, entre algumas espécies de
animais devem ser estudados com cautela ou utilizaremos casos raros, isolados e
aleatórios para defender uma linha de pensamento que surpreende pela proposta
que sugere que os animais evoluíram, nesse sentido, antes mesmo que se pudesse
comprovar, com larga aprovação da comunidade científica, que os humanos, cujo
cérebro é o mais desenvolvido dentre as espécies, conseguissem alcançar tal grau
de evolução.
Ainda pegando “carona” no que a psicóloga e
psicanalista F. Freitas escreveu em seu artigo O altruísmo verdadeiro, existe?:
“A discussão parece não ter fim e
muitos filósofos e cientistas terão diferentes posições. No entanto, outras
questões morais surgem a partir dessa discussão. Por exemplo, devemos julgar
com um olhar severo pessoas que praticam o altruísmo? Devemos aceitar a ajuda
de alguém que ofereça porque suspeitamos que ela tenha motivos menos “nobres”?
Neel e Steve acreditam que todo altruísmo, egoísta ou não, deve ser celebrado,
uma vez que faz do mundo um lugar um pouco melhor, mas sugerem que você seja o
próprio juiz do altruísmo quando se deparar com ele.”
Dawkins é outro que
compartilha desse mesmo pensamento quando diz em O Gene Egoísta “... se o leitor desejar, como eu, construir uma sociedade em que os indivíduos cooperarem
generosa e desinteressadamente para o bem-estar comum, ele não deve esperar
grande ajuda por parte da natureza biológica.”. Todos nós queremos um mundo
melhor, mas a nossa “natureza biológica” parece não concordar que o altruísmo seja
a solução para os nossos problemas, nesse caso, fazer o bem, fazer o que é
moralmente certo, já nos basta.
Mas eu ainda faria um
adendo: acredito muitíssimo não apenas na nobreza de quem pratica a filantropia
como defendo que, ao fazê-lo, estamos rascunhando e ensaiando os primeiros
passos evolutivos na tentativa de aperfeiçoarmos um possível altruísmo genuíno ao mesmo
tempo em que duvido de que outras espécies consigam tamanha façanha antes de nós.
Eu não poderia deixar
de citar mais uma vez Richard Dawkins aqui, porque tanto quanto Hamilton e
outros, Dawkins, deu contribuições importantíssimas que facilitaram a
compreensão da evolução das espécies e, diferente de George C. Williams, ele
popularizou o modelo de “unidade seletiva” como se conhece hoje.
Dawkins, diferente de
Burton e Taylor, aborda esse tema com mais suavidade. Freqüentemente em
programas de TV ou em documentários facilmente encontrados no YouTube, ele fala
muito em “altruísmo limitado” entre os animais, contudo, sem deixar claro de que
tipo de “altruísmo” ele está falando, o que pode levar o leigo a confundir os
conceitos postulados acima. Alguém poderia se perguntar: mas como alguém
poderia dizer que Dawkins, defensor da teoria do gene egoísta, falou em haver
altruísmo genuíno entre as espécies? Seria uma grande contradição! Mas, acreditem
ou não, eu ouvi essa afirmação de uma pessoa esta semana... Isso provavelmente
acontece pela forma leve como Dawkins trata o assunto e talvez porque essa
pessoa não conhece o argumento de Dawkins em favor de unidade seletiva (o egoísmo
dos genes).
Contudo, em seus livros,
ele tem sido rigorosamente cuidadoso quando fala em altruísmo entre os animais,
deixando claro que está sempre se referindo a uma “forma limitada de altruísmo”.
Quem leu ao menos o primeiro capítulo de O Gene Egoísta, jamais faria tamanha
confusão. Em sua obra, no primeiro capítulo, quando ainda está apresentando seu
livro aos leitores, Dawkins diz:
“Sustentarei a ideia de que uma
qualidade predominante que se pode esperar de um gene bem-sucedido é o egoísmo
implacável. Em geral o egoísmo do gene originará um comportamento individual
egoísta. No entanto, tal como veremos, existem circunstâncias especiais em que
um gene pode atingir mais efetivamente seus próprios objetivos egoístas
cultivando uma forma limitada de altruísmo, que se manifesta no nível do
comportamento individual. “Especiais” e “limitada” são palavras importantes na
última frase. Por mais que desejemos acreditar no contrário, o amor universal e
o bem-estar da espécie como um todo são conceitos que simplesmente não fazem
sentido do ponto de vista evolutivo.”
Grande parte das
discussões sobre o tema parte daqui. Confundir os conceitos de Altruísmo com o
de fazer o bem é mais comum do que se
imagina. Mas quando se compreende os conceitos, fica mais fácil entender a
proposta de alguns cientistas mesmo quando, ao final, não concordamos com elas.
Se fazer o bem, se fazer o que é
certo, se fazer o que é moralmente recomendável não é altruísmo, o que pode
ser então?
Para a maioria dos
cientistas, a filantropia é apenas uma forma dissimulada de egoísmo. Mas para
alguns, e Dawkins inclui-se nessa lista, acreditam que a filantropia, a
reciprocidade positiva e a cooperação, talvez sejam “ensaios” de altruísmo
genuíno, ainda que sejam estratégias puramente egoístas que os genes desenvolveram
para obterem vantagens em comum.
Algumas questões ainda
continuam: como explicar os “casos especiais” de comportamentos
aparentemente altruístas que encontramos entre as espécies, alguns dos
quais implicam perdas ou o riscos enormes para que sejam interpretados como manifestações egoístas?
Seleção
Natural e o paradoxo do altruísmo entre as espécies
Segundo as teorias que
defendem o conceito de “unidade seletiva”, como proposta por George Williams na
década de 60, genes genuinamente altruístas não poderiam coexistir
em harmonia com genes egoístas dividindo pouco espaço e recursos, pelo
menos, isso não poderia prosperar por muito tempo ainda que não dividissem
inicialmente o mesmo espaço. Pois os genes altruístas agiriam sempre de forma
verdadeiramente altruísta em favor dos genes egoístas e em desfavor de si
próprios, o que implicaria perdas severas e até mesmo no desaparecimento
dessa característica genética que, não raramente, sacrificariam a própria
existência em favor dos genes egoístas que acabariam os explorando. Com a
palavra, Richard Dawkins:
“A resposta
imediata do adepto da "seleção individual" ao argumento apresentado
poderia ser mais ou menos como segue. Mesmo no grupo de altruístas haverá,
quase certamente, uma minoria dissidente que se recusará a fazer qualquer
sacrifício. Se existir um único rebelde egoísta, pronto a explorar o altruísmo
dos restantes, ele terá, por definição, mais probabilidade do que os outros de
sobreviver e de procriar. Cada um dos seus filhos tenderá a herdar seus traços
egoístas. Após várias gerações dessa seleção natural, o "grupo de
altruístas" será dominado pelos indivíduos egoístas e desse grupo se
tornará indistinguível. Mesmo admitindo o acaso improvável da existência
inicial de grupos altruístas puros, sem nenhum indivíduo rebelde, é muito
difícil antever o que seria capaz de impedir a migração de indivíduos egoístas,
provenientes de grupos egoístas vizinhos e, por casamento cruzado, a
contaminação da pureza dos grupos altruístas.” (O Gene Egoísta)
Nesse cenário lógico,
se toda vez que um indivíduo egoísta se encontrasse em apuros e os altruístas
agissem eu seu favor e essas ações implicassem em custos e até na morte, como conceber
que o altruísmo genuíno deveras pudesse prosperar?
Pela teoria darwiniana dos
replicadores, comumente aceita, todos os esforços genéticos são no sentido de
fazer cópias de si mesmos e de proteger os veículos que transportam suas
réplicas a fim de garantir a longevidade de suas características genéticas. O
problema é que no cenário acima, os genes altruístas jamais prosperariam haja
vista que suas ações, sempre altruístas e nunca egoístas, não resultariam em
vantagens, mas em prejuízos.
Digamos que, em algum
momento da evolução, em alguns indivíduos A, B, C, e D, aflorou a característica genética altruísta.
Na primeira oportunidade que tivesse, o primeiro individuo genuinamente
altruísta A, não perderia tempo em ajudar outro individuo B em apuros, cuja
ação poderia implicar sua própria morte (é necessário que haja algum prejuízo para A). Ainda que o individuo em apuros (B)
seja também altruísta e o nosso herói (A) tivesse sobrevivido (ainda que com os prejuízos) à sua ação altruísta, a repetição desse ciclo
por si só seria altamente prejudicial e anti-evolutivo devido aos custos. Em algum momento, tanto pelo acúmulo de perdas quanto pelo risco da ação, não haveria como ajudar o individuo em apuros C e
ambos morreriam já que o instinto altruísta falaria mais alto e não permitiria
que nosso herói (A) hesitasse. O beneficiário e sobrevivente altruísta (B) em
algum momento faria o mesmo com o último individuo altruísta D e todos teriam
desaparecido.
O problema é que jamais
se cogitou em grupos primitivos essencialmente altruístas (o altruísmo seria mais
recente) e o exemplo acima, embora lógico, não encontra amparo na seleção
natural de Darwin. Por causa do prejuízo do resultado lógico acima, os
primeiros genes, necessariamente, foram todos egoístas e, logo, temos um
problema ainda maior: num grupo de indivíduos egoístas, um individuo altruísta
seria, no mínimo, explorado e estaria condenado a desaparecer rapidamente, isso
se ele não desaparecesse numa primeira ação suicida.
Um olhar mais rigoroso
sobre o exemplo acima e descobriremos que, para ser chamado de altruísta, o
individuo teria de ter agido como tal, antes, para então merecer efetivamente o
título. Isso reduziria os altruístas do nosso exemplo ou poderíamos dizer, com
o mesmo rigor, que muitos altruístas receberam o título no momento da morte.
Em contrapartida, para
que os genes egoístas superassem o obstáculo das disputas internas que
resultavam em prejuízo, bastou que mudassem de estratégia egoísta e aprendessem
o princípio da reciprocidade e da cooperação, ou seja, passaram a usar uns aos
outros em beneficio próprio e do grupo. Nas disputas entre grupos é mais fácil
e lucrativo competir pertencendo a um grupo do que competir sozinho. As eventuais deserções
comuns aos indivíduos egoístas, passaram a ser diminutas já que as punições
impostas pelo grupo ou conseqüências oriundas das deserções, são bem maiores
que os "malefícios" que a cooperação e a reciprocidade positiva podem
trazer.
Dawkins, disse no mesmo
livro: “Tratemos então de ensinar a generosidade e o altruísmo, porque nascemos
egoístas. Tratemos de compreender o que pretendem os nossos próprios genes
egoístas, pois só assim teremos alguma chance de perturbar os seus desígnios,
algo que nenhuma espécie jamais aspirou fazer.”
Vamos abusar um pouco e
imaginar um cenário perfeito de altruísmo genuíno nos dias de hoje? O leitor
fique à vontade. De antemão, esse cenário é, por definição, tão raro quanto
improvável, por isso queiram me perdoar os leitores mais ortodoxos. Mas não é tão
difícil imaginá-lo. Pois bem... Acho que todos partiremos da premissa de que
hoje existem mais pessoas egoístas que genuinamente altruístas. Então, uma
alegoria imaginária perfeita seria: 1. Um indivíduo A agiu de modo que perdeu
a sua vida na tentativa de salvar um egoísta B. O beneficiário (B) se salva e
permanece vivo para se reproduzir e garantir a longevidade de seu genes
egoístas ao passo que nosso herói morreu lindamente com o título de altruísta.
Logo, terá sido um caso único e, portanto, anti-evolutivo, pois A não poderá mais passar suas características nem por reprodução, nem por meme. Sua variante seria: 2. Um
individuo X agiu de modo que perdeu sua vida na tentativa de salvar um
egoísta Y . O beneficiário (Y) e o herói (X) morrem juntos, mas o altruísta
(X) tinha um filho (Z) que, além de ter ficado órfão e sem proteção, aprendeu
por meme observando o pai a como obter o título fúnebre de altruísta ajudando
outro egoísta. Provavelmente, esse filho acabará como o pai e o gene
altruísta, inevitavelmente, desaparecerá ajudando genes egoístas a manterem-se vivos, ativos e sempre em maior quantidade.
Um terceiro cenário
onde o altruísta permanece vivo não ajuda, ao contrário do que muitos podem
pensar, porque, além de não ser um exemplo perfeito, dando margens à
interpretações, o nosso herói será, querendo ou não, recompensado pela
sociedade de alguma forma e tenderá a se sentir bem recebendo recompensas da
sociedade atual que, no mínimo, louva e elogia esse tipo de comportamento e,
portanto, acabaria por se corromper com o tempo. O outro problema, ainda mais
grave, é que se ele tivesse sobrevivido à ação altruísta, tendo ficado apenas
com danos, ele seria explorado até a morte e, do mesmo modo que nos outros
cenários, desapareceria do mapa em pouco tempo.
Notem: ainda que
comportamentos genuinamente altruístas surjam em meio a uma sociedade
egoísta, eles tenderão a desaparecer por meio da seleção natural de Darwin.
Como explicar casos de
aparente altruísmo na natureza? Burton e Taylor diriam que sempre haverá uma
forma de explicar por uma perspectiva egoísta, pois assim como alguns indivíduos
poderiam agir inconscientemente e despretensiosamente movidos por instintos
altruístas, outros agem inconscientemente e despretensiosamente movidos por
instintos egoístas. Logo, se somos essencialmente egoístas pela força da
natureza, por que insistimos em interpretar os casos de uma perspectiva
altruísta? Bom... Isso é, no mínimo, curioso. Mas há um desejo contínuo de nos tornarmos
melhores do que somos e de tornar o mundo onde vivemos um lugar melhor e
estamos acreditando que, se os humanos se tornassem altruístas genuínos, o
mundo seria um lugar melhor para viver.
Esse desejo pode estar influenciando esse comportamento, ainda que de forma inconsciente, porque
interpretar altruisticamente alguns casos, mesmo tendo consciência plena de que
eles são raros, isolados e improváveis, seria “moralmente mais aceitável” que
interpretá-los por uma perspectiva egoísta e, portanto, uma interpretação
cultural mais “do bem” que “do mal”, mais “religiosa” que “científica” etc. Contudo, ela permanece utópica. Bastaria que todos tivessem a consciência de
fazer o bem, aprender a cooperar e o princípio da reciprocidade positiva e
seria o suficiente, pelo menos, enquanto houvessem recursos (espaço e alimento).
Uma
alegoria: alguém aí já assistiu The Walking Dead?
A série constitui-se apenas um
exemplo prático de como agiríamos em cenário de caos absoluto. Os autores Frank
Darabont e Robert Kirkman escreveram o drama tomando como base a tendência
egoísta do comportamento humano em situações de sobrevivência, ou seja, em
grupo ou não, o comportamento das pessoas é egoísta ao extremo.
No drama, os
sobreviventes tendem a formarem grupos, pois isso aumenta exponencialmente as
chances de sobrevivência, exatamente como a teoria do gene egoísta explica a
sobrevivência das espécies associada à teoria da seleção natural de Darwin. O
comportamento da reciprocidade positiva e da cooperação pode ser observado
entre os personagens, bem como sugeriu R. Trivers de forma genial. Outros
comportamentos cruéis e execráveis também são observados nos momentos em que os
recursos ficam ainda mais escassos.
O mais interessante e
que merece nossa atenção, é o fato de como as teorias de Seleção de Parentesco,
Seleção de Grupo e Seleção Multinível podem ser observadas na série do mesmo
modo que na natureza. Porém todos os comportamentos, sem exceção, são
predominantemente egoístas porque, o que impera no drama, é a lei da sobrevivência.
A
questão da Seleção de Grupo: novos conceitos
Quando foi apresentada
por V. C. Wynne-Edwards e mais tarde popularizada por Robert Ardrey em The Social Contract, a seleção de grupo
parecia que era uma resposta rápida e intuitiva para alguns casos especiais de
aparente altruísmo, mas, quando da proposta dessa teoria, muitos problemas
surgiram, o maior deles era que seus autores propuseram que o importante na
evolução é o bem da espécie ou do grupo ao contrário da teoria
dawiniana que defende que a seleção se dá em níveis mais baixos (no do
individuo). Konrad Lorenz, autor de Sobre
a agressividade, também pensou como eles e ignorou completamente que a
evolução opera por meio da seleção natural. Dawkins diz que eles “... erraram,
total e completamente.” e segue:
“Embora a teoria da seleção de grupo
conte com poucos adeptos hoje em dia entre os biólogos profissionais que
compreendem a evolução, ela continua a exercer forte apelo intuitivo. Gerações
e gerações de estudantes de zoologia se surpreendem, quando deixam o ensino
secundário, ao descobrir que não é esse o ponto de vista ortodoxo. Não se podem
culpá-los por isso, uma vez que no Nuffield Biology teacher's guide, escrito
para os professores que lecionam Biologia em nível avançado nas escolas,
encontramos o seguinte: "Nos animais superiores, o comportamento pode
assumir a forma do suicídio individual para assegurar a sobrevivência da
espécie". O autor anônimo desse manual ignora, satisfeito, o fato de que
sua afirmação é controversa. A esse respeito, ele faz companhia a cientistas
que ganharam o prêmio Nobel. Konrad Lorenz, no livro On aggression, discorre
sobre a função de "preservação da espécie" exercida pelo
comportamento agressivo, que teria entre suas finalidades assegurar que apenas
aos indivíduos mais aptos seja permitido procriar. Este é um exemplo notável de
argumentação circular. Mas o que quero enfatizar aqui é que a idéia da seleção
de grupo está tão profundamente enraizada que tanto Lorenz como o autor do
Nuffield guide não se deram conta de que suas afirmações eram incompatíveis com
a teoria darwiniana ortodoxa.”
O problema é que desde
os primeiros grandes debates na década de 60 sobre a questão quando Wynne-Edwards
publicou um modelo mais específico de seleção de grupo tendo sido muito
criticado por vários geneticistas teóricos evolutivos, como Maynard-Smith,
George C. Williams e William Hamilton, muita coisa mudou. Entre essas mudanças
podemos citar dois fatos principais:
O primeiro deles foi o
surgimento de novos modelos de seleção dando origem a ideia da chamada “seleção
multinível”.
O segundo deles foi a
formulação da chamada equação de Price e a reinterpretação do conceito de
‘aptidão inclusiva’, antes considerada a antítese da ideia de seleção de grupo,
mas que, mais tarde (como admitido pelo próprio William Hamilton que formulou o
conceito originalmente) como sendo passível de ser interpretado dentro da
perspectiva da seleção de grupo. O que ocorreu foi que George Price desenvolveu
uma equação que particiona a seleção natural total em uma população em
componentes intra- e intergrupos. Isso mostrou que em várias condições a
seleção entre os componentes grupais poderia plausivelmente prevalecer sobre
aquela ocorrendo nos componentes individuais. Segundo, Sloan Wilson, quando o
próprio Hamilton analisou sua própria teoria da aptidão inclusiva em termos da
equação de Price, ele percebeu que o altruísmo expresso entre parentes seria
seletivamente desvantajoso dentro de grupos de parentesco e só poderia evoluir
caso houvesse uma contribuição diferencial de diferentes grupos de parentesco
para a população como um todo.
De certo modo a questão
tornou-se muito mais semântica do que qualquer outra coisa. Infelizmente, a
discussão ainda é bastante contaminada pelas discussões passadas que fazem
alguns críticos repetirem argumentos inadequados e insistir em equívocos que
deveriam ter sido, há muito, superados e por causa de certos estereótipos e da
linguagem pouco rigorosa empregada na hora de se falar de seleção de grupo que
ainda é comum entre alguns dos simpatizantes desta abordagem que não trabalham
diretamente com estes modelos e não parecem ter acompanhado os avanços dos
últimos 40 anos.
O
Problema de Dawkins
Como o leitor já deve
ter percebido, compartilho das opiniões de Dawkins em muitos aspectos,
principalmente àqueles que tangem a questão da teoria do gene egoísta, dos indivíduos como máquinas programadas pelos genes, dentre outras. Mas discordo
completamente do radicalismo de Dawkins quanto a questão de Seleção Multinível,
particularmente acredito que seleção pode acontecer em níveis diferentes sem o prejuízo
da teoria do gene egoísta nem da seleção natural quando consideramos os novos
conceitos de Seleção de Grupo. A ortodoxia de Dawkins tem feito com que ele
continue insistindo (isso porque não tenho conhecimento do contraio até hoje)
em afirmar que a seleção acontece no mais baixo do todos os níveis, mais
precisamente no nível dos genes.
Quanto a essa questão,
David Sloan Wilson em seu artigo sobre seleção de grupo e seleção multinível, critica
duramente essa postura de Dawkins e eu concordo com todas elas.
Mesmo que a teoria de
unidade seletiva explique razoavelmente bem como a evolução acontece, em alguns
casos, a seleção em níveis diferentes parece se sair melhor e, ao contrário dos
antigos conceitos de Ardrey e Lorenz de seleção de grupo, não entra em choque com
a seleção na natural dawiniana, aliás, segundo Eliott Sober, Darwin até invocou isso repetidamente no corpus de seu trabalho, por outro lado, Dawkins
argumenta que Darwin invocou seleção de grupo em apenas "uma passagem anômala". Mas o fato é que ele precisa ler e
refutar o artigo de Sober, caso contrário, continuaremos acreditando que seleção
pode acontecer em níveis diferentes constituindo-se uma teoria tão plausível quanto
a teoria de unidade seletiva, muito embora uma não vá de encontro a outra,
particularmente, acredito que elas se completem, pois são egoístas por excelência.
Altruísmo
e egoísmo na sociedade
Sobre esse tema,
Dawkins explora com bastante precisão de modo que passo a reproduzi-lo:
“Em tempos recentes temos
presenciado uma reação contra o racismo e o patriotismo e uma tendência a
adotar a espécie humana no seu conjunto como o objeto dos nossos sentimentos de
solidariedade. Esse alargamento humanista do alvo do nosso altruísmo possui um
corolário interessante, que, uma vez mais, parece reforçar a idéia da evolução
"pelo bem da espécie". Os politicamente liberais, que são, em geral,
os porta-vozes mais convencidos da ética da espécie, demonstram hoje o maior
desdém por aqueles que foram um pouco mais longe no alargamento do seu
altruísmo, de maneira a incluir as outras espécies. Se eu disser que estou mais
interessado em impedir o massacre das grandes baleias do que em melhorar as
condições de moradia da população, certamente deixarei alguns amigos chocados.
A idéia de que os
membros da nossa própria espécie merecem uma consideração moral especial em
comparação com os membros das demais espécies é antiga e profundamente
arraigada. Matar pessoas fora de uma guerra é algo que se considera o pior dos
crimes vulgarmente cometidos. A única coisa proibida com mais força pela nossa cultura
é comer pessoas (mesmo que já estejam mortas). E, no entanto, gostamos de comer
membros das outras espécies. Muitos de nós recuamos constrangidos diante da
execução de um ser humano, não obstante se trate do mais terrível criminoso, ao
passo que defendemos despreocupados a exterminação sem julgamento de pragas
relativamente pouco nocivas. A bem da verdade, matamos membros de outras
espécies inofensivas como forma de recreação e divertimento. Um feto da nossa
espécie, desprovido de mais sentimentos humanos do que uma ameba, goza de um
respeito e de uma proteção legais que excedem em ampla medida aqueles
concedidos a um chimpanzé adulto. E, contudo, o chimpanzé sente e pensa e - de
acordo com os achados experimentais recentes - é até mesmo capaz de aprender
alguma forma de linguagem humana. O feto pertence à nossa espécie e, por essa
razão, conta instantaneamente com privilégios e direitos especiais. Será que a
ética do "especiecismo", para usar o termo de Richard Ryder, se
sustenta em bases lógicas mais sólidas do que a ética do racismo? Eu não sei. O
que sei é que ela não encontra nenhuma fundamentação na biologia evolutiva.”
Entender como agimos de forma egoísta, pode nos ajudar a superarmos
alguns tabus.
Altruísmo: aposta perigosa?
Altruísmo: aposta perigosa?
O leitor já deve ter
percebido a complexidade do tema e concluído que a rapidez em apontar
determinados casos de aparente altruísmo na natureza como altruísmo genuíno pode
ser tão imprudente quanto absurdo. O altruísmo é de fato improvável, e quando
aparece em casos isolados e raros tende a desaparecer por seleção natural.
Isso não significa que
devamos deixar de fazer filantropia e caridade, pelo contrário, devemos fazer
sempre o bem, devemos fazer sempre o que certo. O principio da reciprocidade de
Trivers é viável, pelo menos até enquanto houver recursos para todos no planeta
terra.
Agora imaginemos um
cenário onde os humanos evoluíram e se tornaram todos altruístas a nível genético
e é claro que estamos falando de altruísmo genuíno. Eu admito que tenho
dificuldades de imaginar esse cenário, principalmente porque, por mais que eu me
esforce, não consigo prever como isso poderia prosperar se hoje somos todos egoístas
por força da natureza. Mas, enfim, imaginemos o produto final.
Ainda que os humanos altruístas
vivam bem a nível individual e de grupos e prosperem, em algum momento, pode
acontecer de recebermos visitantes de outro planeta no futuro. O problema é que
provavelmente os seres extraterrestres evoluíram da mesma forma que os humanos
no passado, ou seja, de forma egoísta. Mas nossa hipotética natureza altruísta
não nos permitiria desenvolver estratégias egoístas para disputas entre grupos
(humanos versos ETs) e seriamos exterminados do nosso planeta rapidamente.
Altruísmo não seria uma aposta perigosa? Parece que a seleção natural de Darwin
nos pegaria de forma implacável, de uma forma ou de outra, no presente ou no
futuro. Na melhor das hipóteses, seriamos explorados até que não sobre mais
ninguém.
Conclusão
Fazer o bem nos basta
A seleção natural é implacável e se queremos evoluir terá que ser
por meio de seleção natural, indivíduos mais adaptados sobrevivem, quem não se
adapta à realidade, morre.
Parece cruel, mas a natureza, por vezes, tem mostrado que a lei da
sobrevivência é mesmo cruel. Logo, tratemos de nos adaptar!
Mas para isso, não precisamos cultivar um egoísmo impiedoso.
Observar nossos princípios morais já seria o suficiente para que possamos
permanecer por muito tempo na terra. Entender como os genes usam seus "veículos" pode
ser crucial para nossa existência, isso nos fará pensar duas vezes antes de decretarmos
guerra a outro grupo egoísta a exemplo das guerras mundiais. Fica a reflexão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário